terça-feira, 6 de setembro de 2011

Medicina e seu papel social

Certamente temos um papel social, como cidadãos e como profissionais. Devemos cobrar das autoridades competentes a execução dos serviços de saúde de uma forma eficaz e contínua, sem interrupções por supostas faltas de verba e sem sobrecargas nos serviços para a geração de números.
Devemos, além disso, criar estratégias eficazes de fazer com que nosso conhecimento e potencial de auxílio chegue aos mais longínquos e inacessíveis pontos deste país.

Vivemos na era da internet, onde é mais fácil ter acesso ao Google do que ter a orientação de um profissional de saúde. Por que não utilizarmos essa ferramenta tão poderosa e tão acessível para tentar minimizar o sofrimento de pessoas que não tem acesso ao sistema de saúde? Por que não regulamentar e criar uma forma de teleatendimento eficaz e não simplesmente baní-lo como fez o CFM? Chegamos a um ponto evolutivo onde decisões equivocadas de proibição já não têm tanta força e podem ser invalidadas ante uma mobilização com início nas redes sociais. Não podemos simplesmente, por comodismo ou por uma falsa sensação de segurança, fechar os olhos ante as possibilidades que se agigantam ao incorporarmos as maravilhas tecnológicas virtuais em nossa profissão.

Deve-se enxergar na internet uma possibilidade de aprofundamento da relação médico-paciente. Pensem no seguinte exemplo: Se uma paciente que eu já conheço e acompanho a tempos tiver a necessidade de um contato para esclarecimentos ou ajustes terapêuticos, é muito mais fácil que esse contato seja via internet e com as possibilidades que ela proporciona.
Não podemos ser taxativos, em decisões como esta, sem que sejam exploradas todas as possibilidades de uma forma criativa e que proporcione uma evolução na relação médico-paciente.

A entidade representativa de nossa profissão não deveria tomar atitudes retrógradas como alguns itens da resolução n. 1.974/2011. Além disso, toda e qualquer resolução que nos represente e que envolva os interesses de nossa classe deveria ser amplamente discutida e ouvidos todos os interessados (nós os profissionais médicos), e não impostas por uma cúpula hierarquizada. A internet e as redes sociais podem ser ferramentas democráticas para que possamos juntos construir resoluções que protejam e beneficiem os profissionais médicos e a sociedade que se utiliza de nossos serviços. É perfeitamente evitável a imposição de resoluções anacrônicas se ouvirmos mais uns aos outros, se tentarmos entender o outro e seus pontos de vista.

Ouvir, este é outro aspecto importante a ser abordado. Já não temos mais tempo nem de ouvir direito nossos próprios pacientes, quem dirá ouvirmos nossos colegas de profissão. E é por conta deste autoesclausuramento que nossas condiçoes de trabalho tornaram-se o que são hoje. Decadentes. Se nos unirmos, expormos nossos relatos de aberrações administrativas na saúde que presenciamos cotidianamente, e pararmos para ouvir uns aos outros, poderemos revolucionar nosso sistema de saúde.

Não precisamos ser escravos de um sistema público de saúde sucateado e sobrecarregado. Não precisamos ser reféns dos sistemas privados de planos de saúde superfaturados, que engordam seus cofres às custas de mensalidades abusivas de pessoas idosas e da mão de obra barata do jaleco branco. Temos em nossas mãos o poder de mudar esta realidade. Temos em nossas mentes o potencial de criar e suplantar estratégias obsoletas de oferta de nossos serviços. E devemos ter em nossos corações a coragem de levar, seja de que forma for, um alívio ao sofrimento de nossos doentes, já que esta é principal função de nossa profissão.

Doutor X

Para quem quiser inteirar-se mais sobre a resolução do CFM n. 1.974/2011 Ela está disponível no link abaixo:


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